14.4.08

à pedrada vai.



apedrejo as palavras.
lá vêm elas outra vez. outra e outra vez.

surrateiramente
rechear-me o cérebro vazio.

tão bem que eu estava!

será que já não comando o cérebro?
os patetas são todos mais hábeis do que eu
conseguem isso
deitam a cabeça na almofada e
como quem vai ao contentor deixar o lixo
deitam lá a cabeça e o pensar

toca o despertador
lavam-se à pressa
e as palavras que sobravam. correm pelo cano

aterradas com a cantoria assustadora
de quem berra no duche.

será esse o truque infalível?
é molhar e desafinar até fazer fugir as palavras
e elas voltarem para donde vieram?
- de lado nenhum. graças a deus!

amanhã vou tentar. ao acordar
e voltar a dormir.

sem o pesadelo das palavras em eco. cá dentro.
de mim.






Foto balance by Eliacin

12.4.08

vazio


não pensar é um espaço vazio. uma palavra sem conteúdo. um grito sem som. uma palma da mão sem linhas de destino.

procuro tanto não pensar que acabo a não pensar senão nisso.

depois olho o futuro inexistente como a minha cabeça sem pensamentos à procura de palavras brancas ou pretas. peças de xadrez que sirvam para enfeitar. para não jogar.


não pensar. hoje é um sonho realizado. pior é se adormeço. se adormeço o pensamento vence e eu perco esta paz.

as palavras ganham cor. se durmo. as palavras deixam correr o sangue delas para a minha boca e acordo sufocada num coágulo de prosa ininteligível.
é por esta razão que não durmo. por causa da hemorragia que acomete as palavras. só por me sentirem a dormir.

as palavras. invenção de quem para quem?

quero escutar o silêncio. navegar dentro dele. içar velas ao vento silencioso. cantar-lhe hinos. ser eu. pobre de espírito. fantasma. vazio. de palavras. de significados. de intenções. sobretudo de intenções. que alívio! até parece que começo a viver.



Foto -Exile by Bill Emory